“As árvores que crescem no cimo dos montes, batidas sempre pelos ventos e tempestades, são mais fortes do que as que crescem nas planícies tranquilas.”
Paula Frassinetti, carta 32, 3
Quem desembarca numa cidade de altitude elevada, costuma sentir logo de cara o impacto do ar rarefeito em seu organismo. Há que se ter, por isso, um processo de adaptação, pois quanto maior é a altitude, menor é a pressão atmosférica e mais rarefeito é o ar que respiramos. Também há uma redução na temperatura, que cai em média 6,5 graus a cada 1.000 metros de altura. Por fim, há um aumento na intensidade dos raios solares (que, aliás, podem provocar graves queimaduras). Com o ar rarefeito, somado ao incômodo provocado pelas condições climáticas mais duras, o funcionamento do organismo muda, e podem ocorrer efeitos desconfortáveis: a frequência respiratória aumenta, a frequência cardíaca se acelera e a concentração de glóbulos vermelhos, que transportam o oxigênio para os músculos, aumenta no sangue.
Espiritualmente, sobretudo na tradição judaico-cristã, avançar a altitude ou subir uma montanha é ter a oportunidade de encontrar-se profundamente com o Transcendente e de olhar a vida numa perspectiva diferente e melhor. Podemos dizer que subir o monte, desafiar a altitude e o ar rarefeito é fazer a experiência profunda da ascese. Ninguém desce de um monte sem uma profunda consciência de si e do mundo.
No Monte Moro, Paula Frassinetti acolhe as jovens e se torna protagonista de um sonho que supunha fazer da vontade de Deus a disponibilidade para o serviço da Evangelização. Da ascese do Monte Moro, é gestado o Instituto das Irmãs de Santa Dorotéia.
Assim, como filhos da Frassinetti, cujo frassino se encontra plantado no cimo dos montes, tivemos a oportunidade de, nos dias 21 e 22 de janeiro de 2014, participar do Encontro de Leigos Doroteanos das Américas.
Reunidos em Lima, no Peru, pudemos celebrar, com as Irmãs e os leigos daquele país (marcado pela existência de regiões de altas altitudes), o Jubileu de Ouro das Dorotéias nas terras peruanas.
Vindas da Espanha em 1963, as Filhas de Paula se tornaram uma referência profética e evangelizadora na vida de homens e mulheres daquele país. Marcadas pela coragem, simplicidade, alegria e forte espírito de família, as Irmãs Dorotéias de origem espanhola e peruana nos contagiaram naqueles dias com a disponibilidade para o trabalho e a vida comunitária. São verdadeiras peregrinas e autênticas missionárias!
O contato com os leigos do Peru foi para o nosso grupo do Brasil muito especial, pois ficou clara para nós a extensão do carisma de Paula na Igreja. Segundo o teólogo espanhol José Antônio Pagola, a grande novidade de Jesus foi o anúncio de que o homem não precisa ir até o encontro de Deus, pois é Ele quem vem ao encontro dos seus. Ao partilhar do carisma de Paula com os leigos das Américas, ficou explícita a certeza de que o conhecimento e apreço por Paula e pelo seu carisma não se restringem ao Instituto das Dorotéias, à presença das Irmãs em algum lugar ou ao ambiente de uma escola Dorotéia. Paula e o seu carisma são extensivos a todos os filhos e filhas de Deus. O testemunho das Irmãs, as frentes missionárias e o Projeto Educativo das Dorotéias são formas privilegiadas de Evangelização. Mas, o alcance de Paula Frassinetti e sua intimidade com as necessidades reais da Igreja, povo de Deus, são ainda maiores e mais abrangentes. Paula nos aponta o Cristo Histórico e Libertador.
Fazer da vontade de Deus a sua bússola, tem seduzido leigos e leigas pelas Américas e por todos os continentes onde a Congregação se faz hoje presente. O carisma de Paula não se restringe a um grupo ou a um perfil de leigos. Assim, grupo de mães de família, mulheres simples do povo, deram neste encontro o seu testemunho de libertação a partir do contato e abertura para Paula e o carisma de seu instituto. Profissionais liberais (advogados, médicos, engenheiros...) reunidos em torno do carisma de Paula acreditam na utopia do Reino de Deus anunciado por Jesus Cristo, fazendo opção pelos mais pobres e excluídos. Grupos de ex-alunos de Escolas Dorotéias sentem a necessidade de manter aceso, em seus lares e comunidade, o facho ardente, tal como preconizado por Paula para as Irmãs e para o seu Instituto presente no Mundo. A educação doroteana, marcada pela presença de Irmãs e de leigos educadores se apresentou também neste encontro como espaço privilegiado de Evangelização e de Libertação nesta modernidade líquida e ferida.
A Equipe de Leigos do Brasil (Províncias Norte, Nordeste e Sul) teve a sua participação e partilha marcadas pela apresentação da Escola para a Formação Permanente dos Leigos (Província Sul), Pastoral da Juventude Estudantil (Província Nordeste) e pelo Trabalho Missionário de Intervenção Social (Província Norte).
Diante de tudo o que vivenciamos nesses dias, fomos compelidos a manter a sintonia entre os leigos, a fim de que possamos caminhar ainda mais afinados com o Instituto das Dorotéias e os valores do Evangelho. Com Santa Paula, podemos hoje dizer:
“Com a verdadeira humildade do coração e confiança sem limites na bondade de Deus, estaremos dispostos a fazer as maiores ações para a glória do próprio Deus, como as fizeram os Santos.” (Carta 293, 5)
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