“Não esteja sempre fechada no quarto ou na Capela; tome um pouco de ar e dê alguns passeiozinhos.”
(Paula Frassinetti, Carta 227,9)
Encerrando as festividades da oitava da Páscoa, trinta e dois educadores do Colégio Santa Dorotéia de Belo Horizonte responderam ao convite da Escola de Formação Permanente de Leigos para o REVI. No convite, tivemos o cuidado de não revelar-lhes os detalhes da programação. Pedimos apenas que estivessem na casa no sábado às 7h30min para que déssemos início às atividades.
Assim, às 7h45min, reunimo-nos na capela do colégio e, com um farol e uma ânfora expostas no altar, pedimos a bênção de Deus sobre os nossos trabalhos. Usamos uma ânfora (moringa)nova, tivemos o cuidado de hidratá-la três dias antes e a última água desta hidratação foi dispensada pelos educadores no jardim do nosso colégio. Estávamos prontos para sair em busca da fonte, do REVIgoramento espiritual à Beira do Poço. Abençoados por Irmã Rosarita, entramos no ônibus e nos dirigimos ao Retiro das Rosas, em Cachoeira do Campo.
Fomos acolhidos com rosas, geleias e um café da manhã bem mineiro, regado com muitas quitandas e alegria...
Reunidos em uma das salas da casa, fomos introduzidos na Temática do REVI. A ideia era refletir e rezar a partir da Teologia Bíblica da Água, tendo como fio condutor o binômio nomos/caos na relação do homem com Deus e com a criação. A água perpassa toda a história da Salvação. No princípio, Deus separou as águas de cima das águas de baixo. Era o início da semeadura do Paraíso. O Deus Jardineiro e Oleiro se serve da água para criar o homem, o mundo e tudo o que nele existe e vive. O Deus Criador “reparte do seu amor para que o mundo seja...”
Contudo, ao longo da História, maculado pelo pecado, o homem se afasta de Deus e despreza a criação. Mais uma vez, Deus se serve da água. Porém, a simbologia do dilúvio rompe com o nomos da criação e Deus se serve do caos para purificar todas as coisas. Por isso, no Antigo Testamento Deus é criador e vingativo. É juiz, e cobra a fidelidade de seu povo. Ao encerrar esta primeira reflexão, o grupo foi convidado a fazer um momento de profundo deserto. Cada educador recebeu uma folha contendo os Salmos 41 e 68, que abordam a água em situações de nomos e caos. Rezando os Salmos, cada pessoa iria estabelecer um diálogo com Deus a partir de sua vida e realidade interna. Ao sair para o deserto, cada pessoa levou uma porção de sal grosso que deveria ser ingerida a partir da “degustação do Salmo”.
O momento de deserto foi finalizado com uma partilha no jardim e grande foi o nosso contentamento com a profundidade e a transparência com que os educadores diziam de sua experiência de fé, de intimidade com a presença de Deus. Todas as pessoas foram acolhidas em suas reflexões e o revigoramento ia ocorrendo pouco a pouco. Sedentos de Deus e com a boca seca pelo sal, fomos ao Poço e lá estava a nossa ânfora (moringa) com uma água refrescante e inesgotável. Para saciar a sede, cada um recebeu uma canequinha esmaltada (típica da zona rural mineira), que torna a água ainda mais refrescante e saborosa. Fizemos deste gesto um brinde em gratidão à nossa busca constante pelo Deus Vivo.
Retornamos à sala de trabalhos e fizemos uma reflexão profunda sobre a Teologia Bíblica da Água a partir do Novo Testamento. Partindo do Batismo realizado por João Batista, tendo como culminância o Batismo de Jesus. Tivemos na água a referência de nomos libertador. O Deus vingativo do Velho Testamento é substituído pelo Deus-Amor personificado na Humanidade de Jesus. O contato de Jesus com Pedro, subindo em sua barca e pedindo-lhe que lançasse novamente as redes, despertou em cada um de nós a certeza de que Deus sempre se movimenta em nossa direção. Basta que o acolhamos em nossa barca para que Ele faça de cada um de nós Pescadores de Homens. As nossas atividades da manhã foram encerradas com um texto do Padre Adroaldo intitulado: Deus habita em nós: uma presença que se move em nosso interior... Reconhecendo esta presença em cada um, cresceu em nós o compromisso de sermos evangelizadores naquilo que somos e fazemos, no que falamos e ouvimos, tocamos e sentimos, cremos e esperamos.
O almoço foi-nos servido às 12h30min. Mais uma vez, deliciamo-nos com uma refeição saborosa e permeada das delícias de Minas, um verdadeiro banquete que também nos revigorou.
Às 14h, fomos conduzidos à Cachoeira do Campo. Conhecemos e rezamos na Igreja de Nossa Senhora de Nazaré. Trata-se de um templo belíssimo construído no estilo barroco português. Os altares em estilo rococó com muito ouro e anjos por todos os lados, as paredes laterais da nave central repletas de pinturas de artistas renomados daquele período, as imagens sacras talhadas em madeira e ornadas de pedras preciosas – tudo nos fazia remeter aos séculos XVIII e XIX para tentar entender a relação daquelas pessoas com Deus ao construir todo aquele templo. Dentro da Igreja, contemplamos todos os detalhes e exploramos alguns elementos da História da Arte. O apreço pela arte e pelo conhecimento também é uma forma genuína de revigoramento.
Após este tempo de contemplação e estudo, dirigimo-nos à capela do Santíssimo, onde fizemos um momento íntimo e profundo de celebração diante do Ressuscitado. Ali, rezamos cantando o Cântico de Daniel que nos inspirou no louvor de todas as criaturas ao Senhor. Em seguida, fizemos um momento de oração pessoal e silenciosa e também uma oração comunitária em que cada pessoa teve a oportunidade de fazer a sua petição e bendição a Deus. Em reverência e adoração a Jesus Sacramentado, ajoelhamo-nos e cantamos em honra à presença de Deus Vivo: Glória a Cristo Senhor! Céus e Terra, Bendizei o Senhor! Sintonizados com a religiosidade popular do povo de Minas cantamos também o ofício de Nossa Senhora colocando no colo de Maria tudo o que somos, temos, desejamos e amamos! Foi mais um momento forte de revigoramento e cultivo espiritual.
Retornamos à escola e, às 17 h, cada participante voltava à sua casa repleto e REVIgorado para o final de semana com a família e para a Missão do Educador Doroteano.
... um passeiozinho... a contemplação de um belo pôr do sol... um pastelinho saboreado à sombra duma figueira... uma anedota que faça distender os músculos do rosto... um passeio de toda a Comunidade... uma merendinha fora da sala habitual... um convívio ao ar livre...
(Irmã Diana Barbosa)
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