Assim o Papa Francisco começa a sua Primeira Carta Apostólica intitulada “A Alegria do Evangelho”: A ALEGRIA DO EVANGELHO enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. (EG 1,1) Noutro trecho, o papa enfatiza: “Há cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma sem Páscoa”.
Em sintonia com a proposta do Papa, reunimo-nos dias 6 e 7 de março no Retiro das Rosas em Cachoeira do Campo para fazermos uma experiência profunda de oração e cultivo espiritual. Esta atividade esteve em sintonia com a Semana de Paula realizada no colégio em alusão ao nascimento de Paula Frassinetti no dia 3 de março. Participaram livremente quarenta e dois educadores de todos os segmentos e unidades da escola.
Trabalhamos a Alegria do Corpo, da Alma e do Espírito. Sabemos que, na condução do Instituto, Paula Frassinetti sempre se ocupou da alegria das Irmãs, das alunas e do trabalho apostólico realizado pela Congregação. Esteja alegre no Senhor! (Carta 208,6). Eco fiel do Alegrai-vos no Senhor, de São Paulo (Fil 3,1), esta exortação repete-se textualmente nove vezes, nas Cartas de Santa Paula. Aliás, as exortações à alegria e as referências à mesma atingem, pelo menos, o número de 150! Paula sempre incentivou todos a não se distanciar da alegria em todas as dimensões da vida: nas perseguições, no serviço ou apostolado e nas celebrações. Em sua sabedoria e espiritualidade, Paula já entendia naquela época que a alegria é terapêutica: “Recomendo que lhe incuta muita coragem, que a tenham tranquila e alegre, porque é muito apreensiva e sensível.” (Carta 264,5);” procurem animar-se umas às outras a fim de lhe dar gosto, de a manter alegre, para que possa recuperar a perfeita saúde.”(Carta 301,3).
Para a vida religiosa, Paula considerava a alegria o clima e o ambiente favorável para uma vocação dilatada e feliz: Esteja alegre e procure que estejam alegres essas boas Irmãs (Carta 240,5; cfr. Carta 399,7); Tenha as Irmãs alegres e unidas em santa caridade (Carta 347,5; cfr. Carta 804,2); (...) recomendando muito à Madre Mestra, em meu nome, e também às outras Noviças, suas companheiras, que a tenham alegre (Carta 663,9); Recomendo-lhe que procure tê-las animadas, alegres e tranquilas, porque não há coisa que mais prejudique a juventude do que o sofrimento moral (Carta 872,4); Procure que as Irmãs estejam alegres; assim custar-lhes-á menos o trabalho e gozarão também de melhor saúde (...). E, depois, como diz o provérbio, o arco sempre tenso acaba por se quebrar. A si não lhe faltam meios para ter as Irmãs mais novas sempre alegres (Carta 872,9); Espero que esse dia [festa de São José, onomástico da Superiora] tenha sido para essa tríplice comunidade um daqueles que santamente dilatam o espírito e o corpo (Carta 872,10).
Em sintonia com a importância da alegria, vivenciamos o retiro em momentos fortes de resgate da alegria na vida e para a vida. Na sexta-feira à noite, cada educador recebeu uma concha, contendo em seu centro uma pérola e em um papel sanfonado o significado do seu nome... Por aí começamos a interiorização. A partir de um texto de Frei Betto, descobrimos que o cultivo da espiritualidade é o fundamento da vida de fé e nos inspira a transformar (até na religião) aquilo que pode nos afastar do propósito que Deus tem para com cada um de nós! No escuro, cada educador fez a experiência da cegueira que o impede de fazer da vida uma experiência geradora de alegria e felicidade. Na experiência das trevas, Irmã Rosarita nos lembrava do medo da menina Paula do escuro, do gato preto e ameaçador descrito por sua tia e da luta daquela em criança em vencer os seus medos e se tornar referência de coragem. Na capela, cada educador recebeu uma vela e, diante de Deus, colocou-se numa atitude de abertura e diálogo. A partir do mote bíblico “Senhor que eu veja”, encerramos a noite em atitude de recolhimento e introspecção.
Ao amanhecer do sábado, Irmã Sueellen conduziu o grupo à experiência orante com a argila, húmus, barro de nossa condição de corpo modelado por Deus. De olhos fechados cada educador recebeu um pouco de argila e ao manuseá-la foi tomando consciência da obra divina criada por Deus à sua imagem e semelhança.
Em seguida, com a técnica da biodança e orientação da Professora Gabriela, fizemos a experiência profunda de tocar o nosso corpo e, através da dança, da venda nos olhos e do encontro com o outro expressar tudo o que sentimos e resgatar a alegria do corpo. Foi uma experiência silenciosa e que exigiu muita entrega dos participantes. Rezamos em todas as dimensões dos sentidos. Após esta atividade, o grupo vivenciou um momento de deserto e, na área externa da casa, cada um pôde sentir-se vivo e fazer desta sensação um motivo de bendição a Deus.
Ainda na parte da manhã, conduzidos pela Professora Suelen, fizemos um mergulho na alma, hálito de Deus no ato de nossa criação. Descobrimo-nos filhos e filhas do sopro, da vida que se faz em movimento. Com a anima alegre podemos ser e querer mais. Como um tapeceiro, vamos tecendo a nossa vida e dando sentido às linhas e contornos da alma.
Após mais um momento de deserto e reflexão pessoal, o grupo voltou ao salão e cada um recebeu tecido, linha e agulha e uma medalhinha de Santa Paula. Através do simples gesto de costurar, cada educador produziu um “colchãozinho” (relicário) com a medalha de Paula costurada em seu centro. A ideia era fazer uma síntese orante da alegria do corpo e da alma.
Após isso, dirigimo-nos à capela e depositamos os colchões no altar. Estávamos nos aconchegando na casa de Deus, nosso Pai. Ao contemplar a modelagem de argila produzida na oração da manhã, cada educador descobriu nela um catavento colorido: era o encontro do corpo e da alma. Ao sair para o almoço, cada um escolheu um lugar da área externa para depositar o corpo (argila) e a alma (catavento). O tempo estava fechado e armava um temporal, contudo, como papel em branco e cera mole nas mãos de Deus, não tivemos medo de oferecer à natureza os nossos símbolos.
Após o almoço, conduzidos pelo Professor Leandro, mergulhamos na alegria do Espírito. O Espírito do Cosmos, de todos os seres, o espírito de cada pessoa ali presente e o Espírito Santo de Deus. Na dimensão do Espírito, refletimos e rezamos os nossos projetos, sonhos e idealizações. Descobrimos que uma vida sem espírito é estagnada, nos adoece física e emocionalmente. Por isso, o cultivo do espírito nos sintoniza com aquilo que Deus espera de cada cristão: a vida em plenitude. Vivemos numa época, particularmente, anêmica de espírito. A cultura do consumo afogou o espírito na materialidade opaca. E sem espírito perdemos o que há de melhor em nós: a comunicação livre, a cooperação solidária, a compaixão amorosa, o amor sensível e a sensibilidade cordial pelo outro lado de todas as coisas, de onde nos vem mensagens de beleza, de grandeza, de admiração, de respeito, de veneração e de transcendência. Foi uma tarde de reencontro consigo e de fazer as pazes com os projetos que temos, sonhamos e queremos...
Na celebração final do retiro, encontramos na capela uma cruz de violetas. Cada educador foi orientado a trazer para a celebração uma fruta de sua preferência. As frutas foram reunidas em uma cesta e depositadas no altar. Tínhamos “flores e frutos”: tudo favorecia uma memória especial – Santa Dorotéia. Rezamos com os educadores o compromisso de ser “dom de Deus para o mundo”. Ao receber o vaso de violetas, rezamos a simplicidade no trabalhar, visualizamos as açucenas de nosso escudo e reafirmamos o nosso compromisso com a educação das crianças e a promoção da juventude. A fruta foi levada para casa para ser partilhada com a família, o primeiro lugar onde devemos ser dom de Deus!
Voltamos para casa ao anoitecer... Sentíamo-nos revigorados e nos apoiávamos mutuamente em um espírito de família tal como sonhou Paula Frassinetti!
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