Uma santidade construída no cotidiano e sob a luz das estrelas!
No dia 6 de junho, a Comunidade Educativa do Colégio Santa Dorotéia de Belo Horizonte, em sintonia com a Festa Litúrgica de Paula Frassinetti e o mês dedicado ao Coração de Jesus, reuniu-se em Formação Permanente de Leigos para refletir sobre a santidade de Paula à luz do Capítulo Geral XXII.Por meio dos relatos das Memórias e das Biografias de Paula Frassinetti, revisitamos Gênova para extrair daquela região litorânea a visão alargada de Paula Frassinetti, que, dia e noite, sob a luz do farol, pôde lançar-se toda disponível para a vontade de Deus.
Em Gênova, adentramos a Casa dos Frassinetti para, no cotidiano da vida ordinária, contemplar a tenacidade de Paula Frassinetti, que, com sua personalidade forte, soube harmonizar os contrários, fazendo dos seus medos internos uma oportunidade de superação e disponibilidade para o serviço em benefício dos mais pobres e desvalidos.
O medo do escuro, de falar em público e de tratar com pessoas estranhas não a impediu de deixar a casa paterna, fundar o seu pequeno Instituto e desbravar-se na expansão de sua proposta evangelizadora.
Em interlocução com a História do Conhecimento, o medo foi tido na tradição acadêmica como manifestação de tudo o que ainda não foi conhecido pela inteligência humana. Na Odisseia, Homero conta como Ulisses vencera os maiores medos da existência humana: o medo do passado e do futuro. Ulisses, que vive em Ítaca, uma cidade grega, com sua mulher Penélope, precisa partir para a Guerra de Troia. Fica 20 anos longe de casa, imerso no caos da guerra. A história mostra como Ulisses vai do caos à harmonia, da guerra à paz, do ódio ao amor de Penélope. Durante 20 anos, ele se agarra ao passado ou ao futuro, à nostalgia de Ítaca ou à esperança de voltar a Ítaca. Quando retorna à terra natal depois de tanto tempo, pode, enfim, viver no presente.
Na filosofia grega, o medo é nomeado como espanto e é o ponto de partida para a passagem de uma consciência ingênua a uma consciência epistemológica. Na filosofia política moderna, Hobbes atribui ao medo a necessidade e a validade de um poder absolutista que freie a selvageria da humanidade (“O homem é o lobo do homem”). E, no pensamento filosófico contemporâneo, Luc Ferry argumenta que vivemos na sociedade do medo. Defensor do humanismo secular, Ferry defende que a felicidade não existe. Temos momentos de alegria, mas não existe um estado permanente de satisfação. Separações, a morte de pessoas queridas, doenças e acidentes são inevitáveis. É por isso que a busca pela felicidade plena não faz sentido.
O que podemos almejar é a serenidade, algo completamente diferente. Só se atinge a serenidade vencendo o medo. É o medo que nos torna egoístas e nos paralisa, que nos impede de sorrir e de pensar de forma inteligente, com liberdade. Os filósofos gregos costumavam dizer que o sábio é aquele que consegue vencer o medo.
Na vida e na santidade de Paula Frassinetti, o medo é superado no zelo pelo Coração de Jesus, onde podemos encontrar tudo aquilo de que temos necessidade: alegria, coragem, fortaleza, conselho, humildade, caridade, paz e tudo o mais.
Na caminhada atual da Congregação, temos na escuridão a oportunidade de contemplar as estrelas:
Foi nesse espírito de uma santidade construída no cotidiano, marcado por medos e escuridão, mas também pela superação de todos os desafios na centralidade da vontade de Deus, que fizemos nessa noite a reinauguração de nosso Observatório Astronômico.
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